Min, uma restauradora da Cidade do México, é contratada para recuperar um casarão colonial da família de seu namorado Zuri, um fotógrafo obcecado pelo romance “Farabeuf”, clássico da literatura mexicana cujas cenas perturbadoras ele tenta recriar em suas imagens. O que começa como a história de um casal de jovens obstinados por seus ofícios, aos poucos se transforma em uma narrativa tensa e intrincada. A cada cômodo da casa que Min adentra, ela é capturada por segredos e traumas de uma geração passada. Existe restauração completa? Até onde vão a crueldade e a abnegação? Ao se deparar com sofrimentos que, diferentemente das paredes descascadas e estruturas à vista, são preservados como segredo de família, Min percebe que está lidando com algo muito mais sombrio do que imaginava.
R$ 68,00
A coleção CAPITAIS & CAFUNDÓS trabalha com expedições literárias. As rotas são constantemente recalculadas, não há centro. O mapa que temos a bordo nos foi dado por aves migratórias, para quem as fronteiras não existem.
Metrópoles, vilarejos esquecidos, florestas, desertos, sertões, campos ermos, mundos imaginários sólidos ou esfacelados: os destinos são obras cujo território extrapola o pano de fundo, participando como organismo vivo, tão complexo quanto seus personagens.
A tradição flâneur ressurge aqui com outros temperos; da América Latina e do Caribe, certamente, mas não só. Vasculharemos sem receio, talvez com alguma imprudência, curvas improváveis, dobras geológicas, nascentes ainda no subterrâneo – quem sabe uma história insuspeita não esteja ali?
Para quem gosta de horizontes largos, temos assento à janela. Aos que usufruem dos detalhes, reservamos lugares no corredor, onde a história se monta por fragmentos e conversas à meia-voz. De todo modo, não prometemos conforto.
No fim das contas, as fronteiras existem – tudo existe depois de ser criado –, mas suas linhas não inibem o movimento do desejo e da necessidade. Somos migrantes. Reescrevemos. Não nos acomodamos, pois, o mais importante: não sabemos quem somos. E no lugar de um espelho, nos interessa a vista, os voos erráticos que tentam escapar da força dos ventos dominantes.
Título: Restauração
Autora: Ave Barrera
Tradutora: Marina Waquil
Ano: 2025
Gênero: Romance
Nº de páginas: 224
Encadernação: Brochura
Formato: 19,5 x 14,5 x 1,3 cm
Peso: 280g
Tiragem: 800 exemplares
ISBN: 978-65-88104-30-9
Coordenação editorial: Laura Del Rey
Coedição: Aline Caixeta Rodrigues
Capa e projeto gráfico: Angela Mendes e Laura Del Rey
Tratamento de imagens: Angela Mendes
Ilustrações do logo, assist. de design e diagramação: Fernando Zanardo
Fotografia [detalhe da Catedral de Guadalajara]: C. Reginald Enock
Preparação de textos: Karina Aimi e Tamara Sender
Revisão: Ana Maria Barbosa
Assistência editorial: Fernanda Heitzman
AVE BARRERA (Guadalajara, México) é escritora e editora. Tem contos e ensaios publicados em diversas antologias e mídias eletrônicas. Seu primeiro romance, Puertas demasiado pequeñas (Alianza, 2016), recebeu o prêmio Sergio Galindo e foi traduzido para o inglês como The forgery (Charco Press, 2022). Em 2023, Barrera obteve uma bolsa da Fundação Kislak para realizar uma residência de escrita na Universidade da Flórida, na cidade de Gainesville.
Restauración (Paraíso Perdido, 2019) é o terceiro romance da autora. A obra, vencedora do prêmio Lipp em 2018, foi publicada na Espanha pela editora Contraseña alguns anos mais tarde. Notas desde el interior de la ballena (Lumen, 2024) é o trabalho mais recente de Barrera, que atualmente vive na Cidade do México.
Livro vencedor do Prêmio LIPP em 2018.
“É e não é. Restauração é a cristalização e a continuidade de uma série de obsessões que são reveladas pela segunda vez na forma de um romance por Ave Barrera. Dividido em três partes – I. Você se lembra?, II. A Quimera, III. Restauração –, o romance exige que o leitor repense constantemente cada imagem, cada linha. Sim, é a história de um casal, Min e Zuri; da restauração de uma antiga casa art nouveau (e de um relacionamento em derrocada); e daquela outra história que é revelada sala por sala, página por página: a de Gertrudis e Eligio. Mas, acima de tudo, Restauração narra (e é em si mesmo) uma miragem, uma armadilha, um limiar.” –– Ivonne Sánchez Beccerril
“Restauração faz uma homenagem ao romance Farabeuf, de Salvador Elizondo. Mais que reescrevê-lo, Barrera o atualiza, muda sua perspectiva, desenvolve as personagens femininas e dá a elas uma gama de nuances e emoções que nos permitem entender a protagonista e as mulheres dessa história. […] Restauração é um romance elegante, que nos oferece um território cheio de beleza no uso da linguagem e da pergunta constante – que é respondida e reformulada; que se coloca como uma fotografia e inicia esse diálogo com seu leitor, entre a captura da imagem, o espelho da representação e o fantasma da memória.” –– Cynthia E. Morales
“Que mão a de Ave Barrera neste livro – firme, precisa, implacável –, que toca e perturba a obra de Salvador Elizondo para trazer à luz novos enigmas. É preciso estar atento a tudo o que Ave Barrera escreveu e escreverá.” –– Cristina Rivera Garza
“Uma voz vibrante e singular, combinada com uma extraordinária maturidade técnica e uma fascinante densidade simbólica.” –– Irene Vallejo
“A restauração é uma tarefa de escuta. É parar no espaço ou em frente ao objeto, aproximar o ouvido e esperar que o silêncio deposite na mente a imagem de como aquilo seria sem o dano. Em seguida, a imagem do presente possível: como o dano e o desgaste podem somar-se à beleza do objeto. Trata-se de ouvir a música do tempo na matéria e entender como os objetos querem ser resgatados, o que desejam fazer com esse tempo […]. Bem-sucedida, a restauração significa ir contra o avanço natural do caos e do esquecimento, é contradizer a morte ao reconhecer sua passagem, abrir a porta e deixar que a atravesse, que coabite conosco. Restaurar é fabricar um lindo fantasma.”
“Saímos do restaurante e atravessamos a Insurgentes em direção ao Parque Hundido. Descemos pela ladeira do relógio, contornamos sem pressa os caminhos entre cães, crianças gritando, atletas suados e réplicas de monumentos pré-hispânicos escondidos na vegetação rasteira. Fomos até o extremo oposto, onde o jardim de sebes aparadas dava lugar a um bosque mais denso. Zuri me guiou até uma rampa e saímos do parque. Do outro lado da rua, atrás da copa das tulipeiras, dos jacarandás e eucaliptos, a casa esperava. Por alguns minutos, Zuri lutou com a grade do portão de entrada sem encontrar a chave certa. Estava tenso, mal-humorado, sabia que a casa devia estar infestada de insetos e sujeira. No entanto, ele confiava em mim. E isso fazia com que eu me sentisse valiosa.”
“Quando o médico terminou a sutura, vi que meu dedo parecia uma salsicha, e aquilo me fez rir muito, não conseguia parar de rir. A enfermeira de plantão falou: vai dormir, menina; mas no fim ela acabou contagiada pela minha risada, e o homem que estava na cama ao lado também, porque meu dedo realmente parecia uma salsicha de desenho animado, inflada e curvada, com seu nó na ponta, e a cada vez que o via, eu começava a me contorcer de tanto gargalhar. Na escola, tive que tirar o curativo várias vezes para acreditarem que eu havia cortado o dedo e que o resultado era a coisa mais engraçada do mundo. A ferida cicatrizou, removeram os pontos, o inchaço desapareceu e meu dedo perdeu a graça. No fim do quinto ano, só havia um toco rosa com o qual eu intimidava minhas primas e aqueles que tentavam zombar de mim.”
“A abnegação com que meu pai enfrentava a ardência da parota parecia fortalecê-lo. As lascas de madeira eram a forragem de sua toca, e ele não gostava que varrêssemos o chão. Quando ele saía para comprar materiais, minha mãe pedia que dona Beatriz e eu a ajudássemos na limpeza da oficina. Ao retornar e ver o chão descoberto, meu pai resmungava e voltava ao trabalho, apressando-se para produzir novos resíduos com os quais se proteger.”
“E sim, é verdade. Não suporto aquelas velhas cafonas e pretensiosas que frequentam esse tipo de jantar, que me veem como se eu fosse um inseto, uma mosca que lambe a borda da taça de champanhe […] É verdade que não uso as palavras pomposas delas, sou uma mulher simples, não vou negar, e ainda que quisesse; não sei nomes de escritores ou artistas e prefiro ficar calada, pendurada no braço de meu marido, observando como ele tem vergonha de mim, deixando que me arraste de um lugar para outro como um fardo. Bom, a culpa é sua, eu finalmente lhe disse, por ter se casado com uma mulher sem casta. Pode admitir, é isso que você quer dizer, não é?, e ele tentando me acalmar: chega, mulher, não precisa ser assim, logo vai haver outra festa, vou avisar a tempo pra que você possa ler algumas revistas e ter assunto. Para ter assunto, seu velho estúpido?, tenho muito assunto. Se dependesse de mim, não calaria a boca. O que eu gostaria é que alguém ouvisse o que tenho a dizer, e não as palhaçadas que essas suas amiguinhas falam. Eu disse a ele: bom, divirta-se e mande um oi pro seu amigo, espero que seja ótimo.”
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