Olás! Como estão? A news de hoje vem contar, agora em mais detalhes, a notícia que havíamos anunciado discretamente na última mensagem: Está aberta a pré-venda de Restauração, segundo título da coleção Capitais & Cafundós! | | |  | Restauração é um romance elegante, que nos oferece um território cheio de beleza no uso da linguagem e da pergunta constante – que é respondida e reformulada; que se coloca como uma fotografia e inicia esse diálogo com seu leitor, entre a captura da imagem, o espelho da representação e o fantasma da memória.” — Cynthia E. Morales |
|  | Restauração não é um romance de fantasmas se o que esperamos são sustos, espectros desfigurados, aparições sobrenaturais; aqui o fantasma aparece como uma materialização do reprimido, das memórias silenciadas, daquilo que esquecemos ou que alguém quis (fazer) esquecer.” — Sand |
| Estávamos empolgadas para dividir com vocês mais detalhes sobre esse trabalho impressionante da mexicana Ave Barrera, que trazemos ao português brasileiro em uma tradução esmerada de Marina Waquil. | | | Mas antes de chegarmos ao enredo da obra propriamente, um passinho para trás: | | | A coleção Capitais & Cafundós, que inauguramos no final de 2024, é uma espécie de expedição literária, onde as rotas são constantemente recalculadas. Não há centro. A proposta, além de garimpar histórias instigantes, é explorar territórios – sejam metrópoles, vilarejos esquecidos, florestas, desertos, sertões, campos ermos, mundos imaginários sólidos ou esfacelados – que participam da trama como organismos tão complexos quanto seus personagens. | | | O título que inaugura a coleção, Simpatia (Rodrigo Blanco Calderón), nos leva a uma Caracas em colapso, onde o protagonista Ulises Kan tenta montar um abrigo para cães abandonados em meio ao êxodo que a cidade enfrenta. | | | Agora, em Restauração, o centro da trama está em um casarão colonial da Cidade do México. Em meio a um complexo trabalho de restauro, as histórias de duas gerações acabam se confrontando. O romance é dividido em três partes: | | |  | Que mão a de Ave Barrera neste livro – firme, precisa, implacável –, que toca e perturba a obra de Salvador Elizondo para trazer à luz novos enigmas. É preciso estar atento a tudo o que Ave Barrera escreveu e escreverá.” — Cristina Rivera Garza |
| 📖 Saca só a sinopse: Min, uma restauradora da Cidade do México, é contratada para recuperar um casarão colonial da família de seu namorado Zuri, um fotógrafo obcecado pelo romance Farabeuf, clássico da literatura mexicana cujas cenas perturbadoras ele tenta recriar em suas imagens. O que começa como a história de um casal de jovens obstinados por seus ofícios, aos poucos se transforma em uma narrativa tensa e intrincada. A cada cômodo da casa que Min adentra, ela é capturada por segredos e traumas de uma geração passada. Existe restauração completa? Até onde vão a crueldade e a abnegação? Ao se deparar com sofrimentos que, diferentemente das paredes descascadas e estruturas à vista, são preservados como segredo de família, Min percebe que está lidando com algo muito mais sombrio do que imaginava. | | |  | Barrera usa uma linguagem lírica, salpicada de uma doçura agridoce e sombria, como a história que conta.” — Cynthia E. Morales |
| | AVE BARRERA (Guadalajara, México) é escritora e editora. Tem contos e ensaios publicados em diversas antologias e mídias eletrônicas. Seu primeiro romance, Puertas demasiado pequeñas (Alianza, 2016), recebeu o prêmio Sergio Galindo e foi traduzido para o inglês como The forgery (Charco Press, 2022). Em 2023, Barrera obteve uma bolsa da Fundação Kislak para realizar uma residência de escrita na Universidade da Flórida, na cidade de Gainesville. Restauración (Paraíso Perdido, 2019) é o terceiro romance da autora. A obra, vencedora do prêmio Lipp em 2018, foi publicada na Espanha pela editora Contraseña alguns anos mais tarde. Notas desde el interior de la ballena (Lumen, 2024) é o trabalho mais recente de Barrera, que atualmente vive na Cidade do México. | | ✍️ E aqui vão alguns trechos do livro, para que vocês possam sentir um pouco da atmosfera e da escrita de Ave Barrera: Voltei à capital com o pretexto de continuar a faculdade. Essa cidade é tão grande que você pode se esconder até de si mesmo. Repeti o primeiro semestre e fui aprovada com tanta facilidade que me deu gás para passar pelo segundo, pelo terceiro e pelo quarto sem contratempos. Depois de me formar, fiz a seleção para o mestrado, então vieram os trâmites para a bolsa, os trabalhos esporádicos de encadernação, gripes, conjuntivite, livros de teoria da restauração, estágios de laboratório e de campo, as primeiras encomendas, um gato amarelo chamado Bodeler, o Dictionnaire raisonné du mobilier français e os cursos de sábado na Aliança Francesa para compreendê-lo, trabalhos esporádicos, correr por caminhos arborizados, ler Benjamin e Bourdieu para a dissertação, inventar cinquenta maneiras de comer espaguete, fugir do síndico do prédio, beber vinho, uísque, Red Bull, fumar, perder Bodeler, andar em busca de casarões abandonados, trabalhar e trabalhar e trabalhar, dedicada a produzir resíduos com os quais me proteger. | | | Era evidente que o quarto permanecera intacto desde o momento em que fecharam a porta, enquanto o tempo continuava passando para a poeira e a matéria que se deteriorava na lenta pulsação de suas partículas. O natural teria sido que os objetos se dispersassem pelo mundo, que os vestidos se tornassem gradativamente livres para buscar a sorte, que os casacos fossem doados ou herdados, que os sapatos de salto alto dessem lugar a modelos mais sóbrios e confortáveis, mocassins para senhoras mais velhas, chinelos. Se o motivo do abandono tivesse sido uma doença, os vestígios da convalescença estariam ali, ainda que apagados. No entanto, os remédios não chegaram a substituir os perfumes, nem a cama deu qualquer sinal de prostração. Era como se num determinado dia a dona do quarto tivesse saído de casa e começado a andar sem parar até desaparecer; sem carteira, sem bolsa, sem mala, sem roupa de viagem, sem nécessaire. Como se alguém, ao fechar aquela porta, também tivesse fechado sua existência. | | | Como se Zuri soubesse de antemão o que iríamos encontrar e quisesse aumentar sua própria expectativa [...], sorriu uma última vez e seguiu em direção à rua. Fiquei na soleira da porta. Me sentei no primeiro degrau e o observei se afastar enquanto sentia o abraço sombrio da casa às minhas costas. A alegria de ter tudo me sufocava. Sentia as pontas metálicas das chaves na palma da mão. Não queria abrir o punho e olhar. Dizem que o sonho se desfaz quando se olha para as mãos. | | | Deu ganas de ler mais, né? | | | A pré-venda fica no ar até o dia 17 de fevereiro! | | | Por fim: O escritor, editor e livreiro da Arte & Letra Thiago Tizzot falou um pouquinho sobre nossa coleção Capitais & Cafundós e o Restauração nesse artigo escrito para o Jornal Plural: "A arte de encontrar livros para os nossos leitores". No texto, Thiago também comenta outro livro traduzido pela querida Marina Waquil: O diabo das províncias (DBA Editora). Agora sim nos despedimos. Abraço com carinho e uma ótima semana! Laura e Fernanda | | | | | |