[ Além das entrevistas principais no miolo da revista, as quatro autoras da Puñado 4 também responderam a um bate-bola rápido sobre rituais, com perguntas iguais para todas. Aqui vão as respostas de Veronica Stigger ]:

Imagens que você relaciona à ideia de ritual: São tantas (dos lugares aos objetos) que talvez não consiga enumerar todas que me vêm à cabeça: as igrejas, as sinagogas, os terreiros, os shopping centers, os cinemas, os tribunais, os jogos, as danças, as máscaras, os altares, os candelabros, os cálices, os afrescos, as vestimentas outras que não as cotidianas etc.

Palavras que você relaciona à ideia de ritual: Êxtase, comunhão.

Um espaço onde tenha participado de um ritual: A igreja (fui batizada e fiz a primeira comunhão).

Um objeto pessoal de valor ritualístico: O sapo da sorte, que guardo sempre em cima do meu computador.


 

[Conversamos com Veronica Stigger sobre o conto “Os pobres”, publicado na Puñado 4, e convidamos a brasileira Jéssica Carvalho para fazer mais algumas perguntas à autora. A entrevista foi realizada em 2018].

PUÑADO: Você utiliza diversos símbolos para compor a atmosfera e os eventos ritualísticos da narrativa de “Os pobres”. Poderia comentar um pouco essas escolhas, incluindo a opção por narrar em um contexto de pobreza?

“Os pobres” se passa no Porto, em Portugal, onde há uma das maiores festas de São João (a maior que conheço). Daí, referir-me ao ônibus como autocarro. Na virada de 23 para 24 de junho, a cidade inteira sai às ruas para comemorar a data, soltando incontáveis balões no céu. É lindo. E é democrático: todos participam, dos ricos aos pobres. No conto, a expressão “os pobres” vem do nome de uma conhecida marisqueira da cidade e é também uma referência ao casal protagonista que, alta noite, volta para casa de ônibus depois de outro ritual, aquele em que os dois brindaram 25 anos juntos.

PUÑADO: O que o casal via, sentado nas poltronas da primeira fileira do segundo andar, enquanto as crianças sonhavam com balões, e balões se tornavam estrelas cadentes?

Não sei. Teríamos que perguntar a eles.

JÉSSICA: Quais as suas maiores influências literárias?

Sou influenciada não só por escritores, mas também por artistas plásticos, cineastas, músicos, por tudo o que me cerca. Para citar alguns: Borges, Oswald, Duchamp, Debussy, Flávio de Carvalho, Maria Martins, Lucrécia Martel, Miguel Gomes, Bolaño…

JÉSSICA: Como se dá a relação entre a visualidade e a sua escrita?

Além de escritora, sou professora de história da arte. Fiz mestrado, doutorado e realizei pesquisas de pós-doutorado na área de teoria e crítica da arte. Na hora de escrever, não há como separar essas atividades. Por isso, uma acaba migrando para a outra: algo da ficção se mistura às investigações teóricas e críticas, e muito das investigações acaba aparecendo, de uma forma ou de outra, na escrita literária. Nos meus livros de ficção, a relação com as pesquisas é perceptível não apenas a partir da alusão a artistas e escritores que me são caros (como toda a seção “Histórias da arte” de Os anões ou certos personagens de Opisanie swiata), mas também pelo uso de procedimentos diletos da arte moderna e contemporânea, como o ready-made, a citação descontextualizada, o uso paródico de formas de escrita originalmente externas à literatura etc. Vale ressaltar que dois de meus livros foram concebidos originalmente como intervenções artísticas, não somente literárias. Delírio de Damasco deriva de um convite do SESC para fazer uma intervenção visual na Mostra Sesc de Artes; e Minha novela, de um vídeo para uma instalação que realizei para a minha primeira exposição individual em Bruxelas, em cartaz entre dezembro de 2012 e fevereiro de 2013.

 


JÉSSICA CARVALHO é historiadora, leitora apaixonada e criadora do site Extra Literário. Trabalha com mediação desde 2016, coordenando os clubes de leitura “Ler Mulheres, Ler a Si Mesma” e “Clube da Vila”. // As biografias de Veronica Stigger e das demais autoras da Puñado podem ser lidas aqui.


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