[ Uma conversa entre a colaboradora convidada Carla Piazzi, a autora peruana Claudia Ulloa Donoso e nós da Puñado. A entrevista foi realizada em 2017 e integra a Puñado 2. O conto de Claudia traduzido e publicado se chama “Passarinho” ].

PUÑADO: Muitos dos seus contos tratam de situações e emoções familiares a todos, mas você acrescenta uma leveza e um certo ar insólito a esse cotidiano. O olhar da escritora parece subverter um pouco o mundo, para sobreviver a ele. Passarinho, em especial, consegue isso com bastante humor. Como essa ficção saiu de você?

O humor é algo que acontece no meu processo de escrita de maneira espontânea. Não há uma intenção premeditada. Muitas vezes não me dou conta de que o humor está presente na história até que vejo o conto terminado. Ainda mais frequentemente, acontece de o leitor perceber isso antes de mim. Talvez seja como quando alguém te sorri e você sorri de volta.

Sobre o insólito, acho que tudo o que nos cerca tem matizes estranhas, que às vezes se manifestam diante dos nossos olhos. Só precisamos agarrá-las.

CARLA: Você vive na Noruega há alguns anos. Isso é uma experiência radical, sobretudo pela diferença cultural, econômica e geopolítica entre o Peru e a Noruega. Se por um lado isso pode proporcionar uma vertigem do deslocamento, por outro, a busca pelo equilíbrio pode aguçar o olhar para as idiossincrasias. Esse confronto com a alteridade influencia a sua escrita?

É bem provável que influencie. Considero que tudo o que me rodeia e que experimento influencia o que escrevo. Influencia inclusive a predisposição que posso ter ou não para escrever, para me aproximar do teclado. O clima influi, a língua norueguesa que me cerca também…, mas o efeito disso é algo que talvez eu só possa vir a entender depois de algum tempo, olhando o que já está escrito e publicado.

CARLA: Essa pergunta deriva da anterior: em que medida esse confronto te faz pensar sobre seu próprio país e as sensibilidades características do que é ser peruano? Há uma ampliação de consciência das suas próprias raízes derivada do contraste?

Sim, ainda que minhas raízes sejam diversas. Minha família é de origem chilena e equatoriana. Eu nasci no Peru. Literalmente, estou no meio. Muitos membros da minha família, como eu, emigraram. Acredito que eu tenha crescido rodeada por esse contraste, esse estar longe e estar perto ao mesmo tempo.


CARLA PIAZZI é historiadora, pesquisadora de filosofia oriental e escritora. // As biografias de Claudia Ulloa Donoso e das demais autoras da Puñado podem ser lidas aqui. // Tradução da entrevista e do conto “Passarinho” por Laura Del Rey.


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