NAIA: O livro Papelucho, de Marcela Paz, de acordo com o que você conta, foi uma grande inspiração para você decidir ser escritora. Considerando que crianças e jovens são temas bastante recorrentes em sua literatura, você acha que seus livros podem ser o Papelucho de futuras escritoras?
Eu contei em alguma entrevista que, quando era pequena, aos sete anos, acreditei no que estava escrito no final de um livro chileno para crianças, Papelucho: que aquele livro era um diário de vida, que havia sido encontrado no lixo e publicado. E que, depois disso, me ocorreu escrever; pensei que eu também poderia publicar. Já não é uma inspiração para mim neste momento da minha vida, e também não sei como eu poderia ser uma inspiração para outras pessoas.
NAIA: Concordo quando você diz, no conto “Caça aos coelhos”, que “A cara de dor de um cachorro deve ser a cara mais expressiva que existe.” Você também disse que escolheu Terriers como título de seu livro por reconhecer várias semelhanças entre as crianças e os cães. Assim como você se coloca na pele de crianças e adolescentes para escrever, você já pensou em se colocar na pele de um cachorro?
Eu escolhi Terriers mais porque achei que soava bem, gracioso. Li, em um folheto que me deram na rua, que o terrier chileno era a primeira raça de cachorros chilenos, e que eram animais “de patas curtas, aguerridos”. Gostei muito disso, mas acho que foi sobretudo por como soava. Achei divertido.
NAIA: Você já afirmou que a Clarice Lispector é uma de suas autoras favoritas. Como ela chegou até você? Como você percebe a circulação de obras de escritoras latino-americanas dentro das Américas?
Não me lembro exatamente de como conheci Clarice Lispector. Já sabia dela quando me sugeriram ler seus textos na universidade, mas acho que foi lá que a conheci melhor mesmo. O primeiro livro que li foi A hora da estrela.
Quanto à circulação de escritoras latino-americanas dentro da América, não sei muito de distribuição de livros, ou dos percursos que as pessoas fazem… nem fui a muitas feiras de livros.
NAIA: Você já teve alguma obra traduzida? Qual é a sensação de ver um texto seu escrito em outro idioma, como no caso de “Caza de Conejos”?
Nunca tinham traduzido algo meu antes. Sei que vão traduzir esse mesmo conto [“Caça aos coelhos”] para o francês, mas ainda não sei como será a sensação. Me alegra muito, claro, e morro de curiosidade para ler “Caza de conejos” em português.
NAIA: Como escritora de temáticas cotidianas, em que momento você sente que uma situação pode se transformar em uma boa história?
Cada vez é diferente.
NAIA VENERANDA é jornalista e tradutora. Mestranda em Estudos da Tradução, dedica-se a aulas de Literatura e Escrita e de Comunicação Digital, exceto quando está penteando ou alimentando sua cachorrinha. // As biografias de Constanza Gutiérrez e das demais autoras da Puñado podem ser lidas aqui. // Tradução do espanhol por Laura Del Rey.