O ritmo do meu texto, a música… vêm da poesia, o lugar mais condensado e exigente no qual nasce qualquer literatura. O texto flui de maneira misteriosa e vou seguindo, uma frase depois da outra, como se as dividisse de acordo com um ritmo interno. Aí releio, às vezes em voz alta… e, se não me soa bem, acrescento ou tiro algo, até que atinja um equilíbrio.
Os contos já surgem me pedindo uma pessoa narrativa ou outra. Imagino aquilo como um diálogo, uma confissão ou uma situação que requer um ar distante e objetivo. Não é assim com os romances, nos quais costumo desconfiar bem mais. Em geral, onde me movo mais confortavelmente é dentro de uma terceira pessoa, que desliza com naturalidade para a primeira. Isso me permite abranger melhor a realidade e não renunciar a certas descrições ou observações, ao mesmo tempo em que dá conta da intimidade do personagem.
Sobre seu conto, “Carne de Exportação”, a autora ainda comentou:
Diante da crise econômica de 2011, eu e meu marido ficamos sem trabalho. Ele recebeu uma oferta e fomos para a Espanha. Ao chegarmos, eu soube que a estadia legal terminaria em três meses; depois disso, seríamos irregulares. Obter os papéis era um trâmite inseguro e que podia levar anos. Então, o tema do confinamento, os medos e os dissabores da imigração… eu estava vivendo na minha própria pele. Como uma metáfora perfeita, um dia fiquei trancada na sacada do apartamento onde vivíamos. Poucos dias antes disso, um amigo argentino também tinha me contado uma situação similar que viveu. Essas duas experiências tão próximas resultaram em contos [este e “Encerrada afuera”].
As biografias de Inés Fernández Moreno e das demais autoras da Puñado podem ser lidas aqui. // Entrevista e tradução por Laura Del Rey. // Tradução do conto “Carne de exportação” por Raquel Dommarco Pedrão.