PUÑADO: Você começou a escrever ainda criança, no Haiti, antes de se mudar para os Estados Unidos. O que acredita que despertou seu interesse por contar histórias? Como sente que essa necessidade se transformou, ou não, ao longo dos anos (desde a infância até a escrita se tornar um ofício)?
Sempre me contaram histórias quando eu era criança, no Haiti. Minhas tias e avós contavam histórias para mim e as outras crianças da família, e acho que isso me ajudou muito a entender o que é uma história e como uma história deve ser. A oralidade é muito importante para o meu trabalho. A forma de falar das pessoas e a escuta do que elas estão dizendo têm influenciado a maneira como moldo os meus textos, em especial os contos. A necessidade de escrever permanece a mesma ao longo do tempo.
Continuo ávida por ouvir e contar histórias. Hoje em dia leio mais do que ouço. Quanto mais velha fico, mais camadas as minhas obras vão tendo. Mas no cerne de toda vida há uma história – e eu nunca me esqueço disso quando escrevo. Uma das vantagens de ser escritora é ver a história germinar da semente de uma ideia até se tornar algo plenamente desenvolvido. É um dos baratos do meu trabalho.
PUÑADO: Que sentimentos passam por você ao escrever um conto como esse, e como você se sente depois de terminar?
Sinto uma espécie de entusiasmo sempre que começo a escrever um conto; depois, na metade, sinto receio; e quando as ideias finalmente se juntam, fico empolgada. Esse conto, em especial, veio numa única explosão de escrita, numa noite. Veio quase como um presente. Escrevi de uma vez só, e depois editei até ele ficar como está agora.
CRISTIANE: Poderia deixar três dicas para quem quer escrever um conto?
- Ler muitos contos.
- Praticar. Praticar. Praticar.
- Quando terminar, editar o texto até ele ficar no ponto que você quer que ele fique.
CRISTIANE: Poderia detalhar um pouco o seu método de trabalho? Rotina, horários…? Técnicas, mesmo que intuitivas? O que funciona no seu processo criativo?
Cada história é diferente. Algumas vêm totalmente formadas; em outras, você precisa arrancar cada palavra. Minha rotina é esta: escrevo um primeiro rascunho. Aí, o edito quase incessantemente, até ficar do jeito que eu quero. Às vezes trabalho à noite, mas na maior parte do tempo escrevo enquanto meus filhos estão na escola. Tento adaptar a rotina ao que está acontecendo na minha vida, e não arrumar desculpas para não escrever. Faço todo o possível para escrever todos os dias.
CRISTIANE SOBRAL é escritora, diretora, atriz e mestra em teatro pela UnB, com pesquisa sobre estética negra no teatro brasileiro. // As biografias de Edwidge Danticat e das demais autoras da Puñado podem ser lidas aqui. // Tradução da entrevista por Laura Del Rey. // Tradução do conto “Entre a piscina e as gardênias” por Raquel Dommarco Pedrão.