Escrito por Henrique Barreto
Edição: Carla Piazzi e Laura Del Rey | Ilustrações: Ariel Spadari | Projeto gráfico: Laura Del Rey | Revisão: Aline Caixeta Rodrigues | Catalogação: Ruth Simão Paulino
Agradecimentos: Aline Castro, Ariel Spadari, Gabriela Aguerre, Letícia Lampert
Ofereci o isqueiro para acender o cigarro que ela tirava do maço; me ocorreu que queria minha atenção. Disse que poderíamos cultivar uma horta, onde vamos, mas ela tratou como um devaneio, mais um. Depois riu com a ideia de me ver sujo, metido num macacão. Provoquei, assegurando que dali em diante iríamos subir em árvores, sentar nas colinas ao pôr do sol, que andaríamos nus de galochas e que se calhasse, meu amor, ficaríamos loucos, discutindo pela janela e quebrando pratos, móveis, com estardalhaço, para que todos escutassem e exclamassem, baixinho, com medo de que a gente ouvisse: “Os loucos chegaram na cidade”, como se fôssemos vikings invadindo uma cidade murada; ou “Os loucos da cidade chegaram”, como se toda cidade precisasse de loucos e os encomendasse e nós estivéssemos a caminho empacotados no vagão; ou então “Os loucos chegaram”, como se fosse um detalhe que alguém diz só por dizer; ou apenas “Loucos”, não mais que um resmungo, como se a cidade fosse louca também.