Genoveva Bravo Genovés vive em Therox, lugar fictício dentro de um país real. Lugar de nome tão forasteiro à Bolívia como os agentes da DEA infiltrados na cidade, cuja economia depende sobretudo do narcotráfico. Uma garota como tantas, como todas, tateando sua identidade em meio ao dia a dia com a família, no colégio só para senhoritas, através do encantamento com o misterioso Mestre Hernán e sua aura de guru new age. Neste romance de formação, da boliviana Giovanna Rivero, os valores rígidos do catolicismo, tão arraigados em nosso continente, colidem com o misticismo popular que a adolescente vivencia em casa ao lado da cálida e colorida figura da avó. A distância no tempo e espaço (estamos em meados dos anos 1980) em nenhum momento afasta Genoveva de nós. Pelo contrário, seu crescimento ao longo do romance nos parece tão íntimo, sua dimensão humana tão visceral, que nos tornamos mais do que testemunhas de sua história; enquanto nossa heroína-narradora escreve em um diário os pensamentos e até as maldades próprias da soberba juvenil, nos tornamos seus confidentes, uma espécie de diário-leitor (ou leitor-diário), capazes de entrever suas incoerências, falhas de julgamento, as mentiras que conta a si mesma, mas também sua ternura e, acima de tudo, a vontade de alçar voos maiores, muito maiores do que a pequena Therox pode oferecer.
Ebooks e audiolivros
Aqui você encontra os títulos da Incompleta que já estão disponíveis em formato e-book e audiolivro. Para facilitar sua busca, reunimos links das diversas plataformas onde é possível adquiri-los. Boa leitura (ou escuta!).
Conheça os títulos disponíveis

98 segundos sem sombra

A horta
“E por que é que não nascem meus girassóis?”
Um homem sai da cidade deixando tudo para trás, e faz uma viagem de trem em direção ao campo. Junto a Luísa, sua companheira, se instala em uma casa no interior, onde pretende fazer uma horta imensa, inútil; uma horta de girassóis. Enquanto se entendem com o espaço, com a terra, os forasteiros vão se relacionando com figuras do novo cotidiano: o caseiro que não sabiam morar lá, a vizinha, o padre, os rottweilers. Acompanhando o vaivém dos pensamentos do narrador, tateamos os desenlaces possíveis para os conflitos, sonhos e tensões que surgem. Primeiro romance do escritor carioca Henrique Barreto, A horta é uma poderosa tentativa de compreender e traduzir o mundo, tão ávido por sementes de reflexão e beleza.

Apañado
Coletânea de contos escritos por autoras latino-americanas e caribenhas contemporâneas. Os 14 textos são de: Alejandra Zina (Argentina), Carla Piazzi (Brasil), Claudia Hernández (El Salvador), Claudia Ulloa Donoso (Peru), Edwidge Danticat (Haiti), Elena Poniatowska Amor (México), Inés Fernández Moreno (Argentina), Ivelisse Rodriguez (Porto Rico), Jamaica Kincaid (Antígua), Jarid Arraes (Brasil), Liliana Colanzi (Bolívia), Lina Meruane (Chile), Mayra Santos-Febres (Porto Rico) e Silvana Tavano (Brasil).

Cavaleiro Macunaíma
Cavaleiro Macunaíma é inspirado na canção homônima do multiartista João Bá. Repleto de imagens brasileiríssimas, com ilustrações que homenageiam visualmente a composição original, o livro acresce aos versos de Bá as imagens de Caio Zero, numa criação narrativa que contempla música, sonho, sertão e o ato de contar histórias à fogueira, símbolo tão caro à tradição do nosso cancioneiro popular.

Infelizes à sua maneira
Um acervo fotográfico de quase cem anos é o ponto de partida de Lucas Verzola para montar este álbum-livro. Atormentado por memórias do cotidiano de sua própria família, o autor constrói uma série de narrativas curtas, combinando textos de hoje com retratos de ontem – alguns tirados há mais de um século –, e convida o leitor a percorrer a intransponível ponte entre a suposta objetividade da imagem e a abertura imaginativa da palavra. É assim que acessamos, por um buraco de fechadura, o inadequado Jacinto, que usa sempre o mesmo par de sapatos; Josefa, que se manda de casa sem deixar bilhete; o cantor de bailes Ronilson de Freitas; e o prodígio Miguelzinho, que aprendia a tabuada do seis e subitamente murchou. Estes e outros personagens deste inquérito ficcional encarnam um Brasil que, décadas depois, seguiria assombrado pelos mesmos espectros. Entre a candura do amor de primos e a força bruta dos bondes, o pacto vil de homens honrados e uma panela queimando no fogo, o autor desobstrui brechas íntimas que nos permitem espiar, curiosos, vidas que bem podiam ser a nossa, infelizes à nossa maneira.

Música para cortar os pulsos
Isabela sofre porque foi abandonada, Felipe quer muito gostar de alguém e Ricardo, seu amigo, está apaixonado por ele. As histórias amorosas dos três jovens se desenrolam com a intensidade – e ao som – das músicas para morrer de amor. A peça “Música para cortar os pulsos” estreou em 2010 e venceu o prêmio APCA como Melhor Peça Jovem. Em sua montagem original, ficou em cartaz por três anos, apresentando-se para dezenas de milhares de pessoas, em mais de 30 cidades de seis estados brasileiros.

O pedaço da coxa de um anjo: Aventura em Istambul
Livro com 29 crônicas do jornalista, escritor e roteirista Pedro Tavares sobre os três meses em que trabalhou para uma emissora de televisão turca, em Istambul.
“Fui colocado no setor de pesquisa sobre a América Latina. Na teoria, tinha de buscar notícias e debater com meus superiores. Na prática, não sabia quem era meu chefe e ninguém parecia querer ou saber me explicar. As pessoas claramente não haviam sido informadas sobre o programa de fellowship, e era como se eu nem trabalhasse ali, apenas chegasse de manhã e ficasse usando um dos computadores. Eu lia revistas, tomava chocolate quente grátis e rabiscava as crônicas que você está lendo agora.”

Restauração
Min, uma restauradora da Cidade do México, é contratada para recuperar um casarão colonial da família de seu namorado Zuri, um fotógrafo obcecado pelo romance “Farabeuf”, clássico da literatura mexicana cujas cenas perturbadoras ele tenta recriar em suas imagens. O que começa como a história de um casal de jovens obstinados por seus ofícios, aos poucos se transforma em uma narrativa tensa e intrincada. A cada cômodo da casa que Min adentra, ela é capturada por segredos e traumas de uma geração passada. Existe restauração completa? Até onde vão a crueldade e a abnegação? Ao se deparar com sofrimentos que, diferentemente das paredes descascadas e estruturas à vista, são preservados como segredo de família, Min percebe que está lidando com algo muito mais sombrio do que imaginava.

Rumi
Rumi vive nas ruas, preso ao seu passado doloroso, até que conhece Malu. Nessa troca de amizade e afeto, sua vida se ilumina para novas possibilidades. Uma história sobre como, no encontro com o outro, acabamos encontrando nós mesmos.

Simpatia
O cenário é uma Caracas em colapso, população em fuga. Mais precisamente, uma casa aos pés do monte Ávila, onde Ulises Kan recebe a missão de montar um abrigo para cães abandonados junto aos funcionários leais do ex-proprietário e a um casal de veterinários desconhecidos. Ao redor da mansão orbitam presenças ambíguas, como a ex-esposa de Ulises, Paulina, e seu pai militar com pinta de Alain Delon; Paco, o centenário guardião do Hotel Humboldt; advogados nos quais se pode confiar; a escritora Elizabeth von Arnim; e o fantasma de Nevado, o cachorro de Simón Bolívar. Repleta de artimanhas, heranças, lendas e esconderijos, a trama vibrante de Calderón assume, por vezes, tons picarescos. Em outros momentos, um lirismo insuspeito encontra a brecha para escapar da tensão que solapa o país: Ulises, duas vezes órfão, “ele, um verme, um parasita”, parece encontrar sentido na família postiça que constrói em torno do abrigo. Para os humanos desamparados de Simpatia, os cães deixados na rua se tornam alento e força motriz.

Terra fresca da sua tumba
O ruído da terra estrangeira, o fantástico e o macabro emaranhados no cotidiano, a crueldade de que só a família é capaz. Tramas de vingança e reconciliação circundam o abismo da morte e do trauma, em uma prosa intrépida e sensível, que extrai do dia a dia uma beleza brutal. Os seis contos longos que compõem a estreia em livro no Brasil da boliviana Giovanna Rivero são um chamado a outras vidas possíveis; expurgo e oração.

Tota e o calombo
Tota sofre com os problemas causados no seu dia a dia por um calombo que, aparentemente, ninguém quer ver. Um delicado texto em rima escrito por Maya Foigel e Marcelo Soriano. Desenhos de Rafa Campos.
“Tota tem aula e precisa dormir, mas Tato não deixa ela se cobrir. ‘Dorme, Tato’, diz Tota irritada, e puxa de volta a coberta roubada”.

vila mathusa
Composto por oito textos, vila mathusa conta as histórias entrecruzadas de moradores transgênero que habitam uma mesma vila na capital paulista. Explorando formas e atmosferas diversas, como as narrativas de detetive, cartas e diários, a autora contempla momentos de perda, ternura, suspense e humor, sob a perspectiva de personagens tão distintos quanto Aurora e Rubi, duas crianças em um dia de aventuras, e Mathusa, a travesti que é a “matrona” da vila. Temas como o envelhecimento, os afetos e o sentido de comunidade são tratados com riqueza visual. Soma-se a isso uma cuidadosa pesquisa histórica sobre as memórias de um Brasil autoritário, que não desiste de se presentificar na vida de corpos dissidentes.