[ Além das entrevistas principais no miolo da revista, as quatro autoras da Puñado 4 também responderam a um bate-bola rápido sobre rituais, com perguntas iguais para todas. Aqui vão as respostas de Diamela Eltit]:

Imagens que você relaciona à ideia de ritual: Levantar-se pela manhã.

Palavras que você relaciona à ideia de ritual: Irritação perante a obrigação de se levantar pela manhã.

Um espaço onde tenha participado de um ritual: Meu quarto.

Um objeto pessoal de valor ritualístico: Minha cama.


 

[ Conversamos com Diamela Eltit e Paz Errázuriz sobre o ensaio “O infarto da alma”, publicado na Puñado 4, e convidamos as brasileiras Letícia Lampert e Renata DaCosta para proporem perguntas às autoras. A entrevista foi realizada em 2018 ].

LETÍCIA: Quando penso em rito, em ritual (para puxar para o tema da edição), penso muito em construção social, em confirmação e adequação a determinadas normas – como o caso do casamento, por exemplo. Pensando que essas pessoas estão, de certa forma, desconectadas da ordem social vigente, é possível perceber nelas um jeito diferente de se relacionar? Ou o que se vê é uma reprodução dos padrões da sociedade em geral, incluindo a necessidade de se ritualizar a relação para confirmar sua validade?

PAZ: No fim das contas, foi muito interessante perceber que muitos dos casais que fotografei queriam estar casados, levar a cabo o ritual do matrimônio. Me perguntaram se eu poderia levar alianças para eles no hospital. (Isso estava proibido pelas autoridades que me permitiram realizar o trabalho fotográfico). O que acabou sendo mais interessante foi que as minhas fotografias, quando as expus no hospital, se tornaram, para eles, algo como o aguardado certificado de matrimônio.

RENATA: Jamais o fogo nunca é o único de seus romances lançado no Brasil. Nele, os acontecimentos são todos narrados pela mulher. Quais caminhos levaram você a essa construção? Você acredita que, particularmente na nossa cultura latino-americana, as mulheres estão de fato sendo ouvidas e se tornando protagonistas de suas histórias?

DIAMELA: O romance Jamais o fogo nunca foi resultado de uma criação poética de acordo com o corpo que eu buscava gerar. Foi um trabalho agudo, inquietante, mas também prazeroso. A mulher na cultura que nos rege tem e mantém um papel subordinado; romper essa subordinação é tarefa das próprias mulheres.

RENATA: Tendo a sua obra ligada à luta feminista e à resistência e violência impostas pelo Estado no período da ditadura, como você vê o ressurgimento de discursos extremistas, ao mesmo tempo em que movimentos liderados por mulheres estão nas ruas em vários países? Como acha que a formação de grupos como o Colectivo de Acciones de Arte pode contribuir neste momento?

DIAMELA: O capitalismo desenfreado gera múltiplas irregularidades e, dessa maneira, se sustenta mediante uma desigualdade planetária. As mulheres, vítimas múltiplas disso a nível simbólico e material, estão manifestando seu mal-estar frente a cada um dos poderes do Estado, da família, da religião. O coletivo é fundamental, porque o sistema precisa da colaboração das próprias mulheres para manter sua hegemonia masculinizante.

 


LETÍCIA LAMPERT é artista visual, fotógrafa, designer gráfica e, eventualmente, publicadora independente. É autora da Escala de Cor das Coisas e do Conhecidos de Vista, o último publicado pela Editora Incompleta. // RENATA DACOSTA é produtora cultural e de eventos com foco na área de cinema, e curiosa. // As biografias de Diamela Eltit, Paz Errázuriz e das demais autoras da Puñado podem ser lidas aqui. // Tradução das entrevistas por Laura Del Rey. // Tradução do ensaio “O infarto da alma” por Raquel Dommarco Pedrão.


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