Seguindo a missão : ) , hoje a lista tem os incompletos Fábio Kawano e Laura Del Rey + os colaboradores e convidados: Camila Gutierrez, Giuliano Rossi, Marcelo Barros, Bruna Schuch e Victor Fisch.
1. FÁBIO KAWANO
DISCOS DE 2016
/// Anna Meredith – Varmints (Moshi Moshi Records, 2016, Reino Unido)
Experimentações, eletrônica e música clássica. Por vezes excessivo e confuso, nunca deixa de instigar e surpreender. Anna diz que tudo na sua música é meticulosamente concebido e que o espaço para improvisos quase inexiste. Difícil de imaginar. Aqui, a sensação é de liberdade total.
Escute: Something Helpful, Taken, R-Type e Dowager.
/// A Tribe Called Quest – We Got It From Here… Thank You 4 Your Service(Epic, 2016, Estados Unidos)
No ano dos drinks, um single malt, 18 anos.
Escutar: We The People…, Dis Generation, Melatonin e Black Spasmodic.
/// Hope Sandoval and The Warm Inventions – Until The Hunter (Tendril Tales, 2016, Estados Unidos)
Mazzy Star e My Bloody Valentine são bandas da vida. O som das duas pulsa forte nesse disco.
Respire fundo, solte o ar e mergulhe de cabeça. Hope Sandoval faz música para preencher espaços vazios.
Escute: Into the Trees, A Wonderful Seed, Let Me Get There e Day Disguise.
/// Frank Ocean – Blonde (Boys Don’t Cry, 2016, Estados Unidos)
Poderoso e minimalista. As melodias são matadoras e a voz de Frank Ocean indica o caminho do coração. Pura poesia. Pura invenção.
Escute: Nikes, Ivy, Pink+White, Nights e Solo (Reprise).
/// Solange – A Seat at the Table (Columbia, 2016, Estados Unidos)
O irmão do Blonde. A voz que complementa. A conversa mais bacana do ano foi a deles, Frank e Solange.
A melancolia, a tristeza, a dor e a alegria te convidam para uma mesa de bar. A própria Solange explica: “I think that ‘A Seat at the Table’, for me, is an invitation to allow folks to pull up a chair, get very close and have these hard uncomfortable truths be shared”.
Escute: Weary, Cranes in The Sky, Don’t Tocuh My Hair e Mad.
/// Noname – Telefone (Noname, 2016, Estados Unidos)
Escutei aos 45 do segundo tempo. Nada me pareceu mais 2016 do que esse disco. Traz a urgência e convida à intimidade. Renova os ares e nos mostra a beleza nos lugares menos óbvios.
Escute: Diddy Bop, Bye Bye Baby, Sunny Duet e Reality Check.
/// The Avalanches – Wildflower (Modular Recordings, 2016, Austrália)
Explosão de sabores. Confusão de estilos e samplers. Os sons parecem embaralhados e o sentido muda a toda hora. A graça aqui é você escutar repetidas vezes. Espere sempre por alguma surpresa. Cara de interrogação, curiosidade e satisfação garantida.
Escute: Beacuse I’m Me, Subways, If I Was a Rockstar, Colours, Harmony e Livin’ Underwater (Is Somethin’ Wild).
/// Kaitlyn Aurelia Smith & Suzanne Ciani – FRKWYS Vol.13: Sunergy (Rvng Intl., 2016, Estados Unidos)
Sintetizadores e vista para o mar.
Assista: Sunergy.
/// Julianna Barwick – Will (Dead Oceans, 2016, Estados Unidos)
Música para os mortos. Exorcismo de demônios. Confessionário. A voz de Julianna Barwick nunca esteve tão clara e assustadora. A sensação é de paz de espírito. Estamos prontos para ver a luz.
Escute: St. Apolonia, Nebula, Big Hollow e Wist.
2. CAMILA GUTIERREZ, 32 anos, cineasta (sócia da Toca dos Filmes) e nossa colaboradora frequente
- American Crime Story: The People v. O. J. Simpson. Uma minissérie do canal FX que foi super premiada em 2016. É sobre a história real do julgamento do O. J. Simpson, acusado de assassinar a ex-mulher em 1994. Além de ser aquele tipo de série tão envolvente que faz você assistir um episódio atrás do outro sem querer parar (nem me lembro quando foi a última vez que tinha feito isso),
ela toca em temas muito interessantes e atuais – apesar da história se passar há mais de 20 anos – sobre a nossa sociedade, como fama, jogos políticos, manipulação, o papel da mídia, a maneira como as mulheres são tratadas. O elenco é incrível e não à toa foi tão premiado. Além de tudo, acho que a série retrata o caso e os personagens de uma maneira humana.
Eu, que geralmente prefiro os dramas humanos aos tribunais e jogos políticos, gostei muito.
- Um quadrinho para recomendar também: A Gigantesca Barba do Mal. Foi lançado aqui no Brasil em 2016 pela editora Nemo. Acho incrível o jeito como ele narra a história e o traço é belíssimo. 🙂
3. GIULIANO ROSSI, 34 anos, cineasta e sócio da produtora Toca dos Filmes
Então eu queria frequentar lugares legais em São Paulo.

O Grande Grupo Viajante // Cia Bambolística
- A Paulista Aberta já virou um clássico (pausa para um “tomara que continue assim em 2017”). Vale prestar atenção nas bandas e manifestações culturais que acontecem nela aos domingos. O Grande Grupo Viajante, Black Papa, Picanha de Chernobill (esta, sempre acompanhada da Cia Bambolística – que, além das performances na Paulista, dão cursos de bambolê pela cidade).
- Gente jovem e criativa comanda um estúdio musical em Pinheiros. O Estúdio Aurora também vai continuar em 2017 a abrir suas portas uma vez por mês ao público para shows intimistas dentro da própria sala de gravação. Bandas e artistas independentes ali, na sua cara, sem palco, a poucos metros de você. O ingresso é barato e vai todo para as bandas. E dá pra tomar uma cervejinha também.
- Uma casa no alto da Lapa é a moradia de um músico, uma tatuadora, um chef de cozinha e um mestre cervejeiro. E duas cachorras. E abre suas portas quase diariamente para o que eles chamam de vivências. Você chega na hora do almoço, senta e come. E em 2017, além dos almoços, em um domingo por mês vai ter flash day. Você pode fazer uma tattoo, comer gostosuras, tomar uma cerveja artesanal e assistir a um showzinho na sala da casa. A programação fica na página no facebook: Projeto Alberto Seabra, 1128.
4. LAURA DEL REY
Ironicamente, em fotografia e livros ˜vô ficá devendo˜, porque mais corri atrás do atraso do que descobri coisas novas 🙂 , então:
/// FILMES
Não sei se foi a dureza da vida real, mas me apeguei às ternuras do Cinema em 2016. Cito 5 – dos quais 3 são divididos com a lista do KZ: Certo Agora, Errado Antes – Hong Sang-soo; Depois da Tempestade – Kore-Eda; Paterson – Jarmusch; As Montanhas Se Separarm – Jia Zhang-Ke (que pessoa que sabe filmar) e Sabor da Vida, da Naomi Kawase – que no dia que vi não me pegou tanto, mas foi permanecendo o ano todo comigo – e tem um dos choros mais lindos da história; vou precisar mesmo rever.
Talvez um pouco mais difíceis de buscar para assistir, listo três grandes filmes de mulheres (todos vistos na Mostra de São Paulo):

Essa coisa maravilhosa que é o Ascent.
- Ascent, minha obra do ano, é da Fiona Tan, nascida na Indonésia e que hoje vive em Amsterdam. Eu já vinha gostando de filmes “deste tipo” em 2015, quando o Fábio nos mostrou O Descobrimento de Américo, do espanhol Miguel Mariño, e assistimos, com poucos meses de diferença, o Visita ou Memórias e Confissões, do Manoel de Oliveira. Estou usando a expressão este tipo para tentar falar de coincidências que extrapolam o aspecto formal (os três se utilizam de imagens de arquivo e voz off com textos poéticos – em 1ª pessoa no caso de Ascent e O Descobrimento, e em duas camadas distintas no Manoel: o diálogo entre os dois “invasores” (visitas) de sua casa e os momentos em que o diretor se dirige diretamente à câmera). É possível aproximar esses filmes, também, por uma certa busca obsessiva; uma escavação que procura camadas de sentido no choque ou intimidade com determinadas coisas (uma cena, uma casa, uma pessoa, uma perda). Todos investigam, a seu modo, um lugar, dando voltas ao redor de instantes passados para preencher certas faltas e tentar permanecer.
{ desculpem postar um trailer de 2015, mas vale tanto! }:
Voltando ao Ascent, ele é e precisa ser entendido como um projeto, do qual fazem parte dois vídeos e uma exposição fotográfica. Eu assisti apenas um dos filmes, mas esse caráter de projeto, quase missão, estava ali. O longa (um documentário ficcional) trata da história de uma inglesa e seu falecido marido (Hiroshi), através de imagens do Monte Fuji. São pouquíssimos trechos em movimento e mais de 4 mil fotografias, que não fazem apenas “base” para o lindo texto lido por ela em tom de carta, mas questionam, potencializam e por vezes contradizem as palavras ditas. O Monte Fuji aparece em todas as imagens. O marido, que não podemos ouvir, ver ou ler, é apresentado pelo contato com esse arquivo visual da montanha e pelas memórias nem sempre precisas da esposa. Nesse processo espelhado de escavação, emerge muito sobre o amor, sobre ela e sobre a história do Japão. Um filme de sobreviventes.
I’m trying to remain in the present,but it’s often too late.
- Eldorado, da Salomé Lamas. Esse aqui é um soco violento, pessoal… mas me senti impelida a listar porque é muito bom. A diretora, portuguesa, decidiu retratar “a comunidade instalada em maior altitude no mundo, La Rinconada y Cerro Lunar”, a 5500 metros, nos Andes peruanos. O primeiro plano do filme (uma câmera estática dentro de uma das cavernas de mineração do lugar, com vozes off dos moradores) dura tanto tempo que levou umas tantas pessoas a saírem da minha sessão – mas erraram feio, erraram rude. São impressionantes as imagens a seguir, os depoimentos, a vida naquele lugar insalubre em busca do básico para existir.
A permanente tensão apocalíptica destoa do ritmo “calmo” do filme, mas se soma à paisagem desolada e gélida dos Andes e àqueles rostos exaustos para nos fazer questionar fundo a violência, a ambição, o poder do grupo e a nossa humanidade. Algo para ver, doer e voltar aos mais básicos por quê’ s. (E um trabalho de som muito interessante, também).

Salomé Lamas e Nele Wohlatz. Um grande ano para as mulheres no Cinema.
- Futuro Perfeito, da Nele Wohlatz. Esse delicado filme acompanha os primeiros momentos da chegada de uma adolescente chinesa à Argentina, onde passará a viver. O roteiro foi desenvolvido em parceria com a atriz Xiaobin (nome da personagem, também), cuja vida coincide profundamente com a história do filme. Curtinho, sutil, inteligente e doce, nos leva para andar pelo cotidiano de Xiaobin (aulas de espanhol, “bicos” que consegue para fazer dinheiro, a relação com a mãe) e, através de uma simplicidade enxuta e fina, emociona profundamente. Também tem um dos melhores finais dos últimos tempos. || Linko aqui a crítica que nosso amigo Bruno Carmelo (que ontem listou filmes para a Incompleta) fez sobre Futuro Perfeito : ) .
(E sim, não fui uma boa brasileira este ano – mas adoro Aquarius).

Bilhão, um brasileiro etéreo e litorâneo
/// DISCOS NACIONAIS
Ao começar a lista, percebi que metade do que tinha em mente (Boogarins, Rodrigo Campos, Letuce etc) é de 2015. Mas a coisa não ia ficar assim, 2016 precisava ser melhorado, e logo lembrei que foi um ano massa para a nossa música sim 🙂 .
Queria demais da conta eleger o Lanches, da BRVNKS, como disco do ano, mas infelizmente não terei essa alegria: só gostei do nome mesmo. E pois que, para começar, não posso fugir dessas belezinhas já muito comentadas:
- Metá Metá – MM3. Que bom ter podido ouvi-los ao vivo, num despretensioso show gratuito na Pinacoteca – meu primeiro contato com as novas músicas. Acabei não acompanhando os projetos paralelos do trio (Encarnado – 2014; Passo Torto – 2015 e Charanga do França – 2016… talvez haja outros mais?), então estava realmente com saudade. Gostei do peso e agressividade do disco novo, das letras, dos gritos, mas gosto especialmente daquela parte difícil de explicar das coisas e que, no caso deles, é a maneira como a música que fazem mexe com todo o nosso corpo. Existe algo de mágico na associação desses três, e felizmente a força segue com eles. Meu favorito do ano.
- Liniker e Os Caramelows – Remonta. Estava curiosa para a chegada desse disco desde os vídeos de YouTube (acho que todos estavam) – e voilà: coisas boas chegaram após o EP Cru, embora minhas favoritas ainda sejam as primeiras que conheci. A voz, a pegada, o vigor – tudo tinindo também ao vivo, diga-se de passagem. A gente fica mordido, não fica?
- Terno – Melhor Do Que Parece. O melhor deles, me parece, num trocadilho realmente involuntário. Se você só viu os clipes massa da banda, achou tudo simpaticão mas não foi adiante, é uma boa hora :} . Estão graciosos, soltinhos, com o bolor gostoso dos 60/70s, porém agora mais… firmes?
Dos três acima, se quiserem começar por algum ponto (o que é meio equivocado, porque discos são histórias, blablablá, mas vai que você tá sem tempo), destaco: a) Metá Metá: Oba Koso, A Imagem do Amor, Angôuleme, Três Amigos… (difícil não ouvir tudo, como se vê); b) Terno: as incríveis Minas Gerais e Melhor Do Que Parece. E tem Culpa, a música de trabalho, que é boa também e traz bom humor, esse valor tão abandonado : ) . E do c) Liniker, para mim ficam Zero e Caeu (já presentes no EP, mas aqui em versões retrabalhadas) e Remonta.
“Um tique no ponteiro
E o sol mudou
O pôr do sol nasceu assim
Um taque no ponteiro
Você mudou
Pra mim, você nasceu assim…”
- Uma outra grande JOIA, que ouvi já em 2017, é o disco do Rômulo Fróes com o César Lacerda (e olás do Rodrigo Campos, o que significa todo um +++ cremoso). Bom, o Rômulo é aquela coisa… vai ter sempre quem torça o nariz e freie na sua “estranheza”, mas sou das que gosta e em Meu Nome É Qualquer Um amei. As duas vozes tão peculiares, dele e do César Lacerda, encaixam lindamente juntas, com os violões e com o cavaquinho do Rodrigo. Faixas para começar essa ˜folia sombria político-sexual˜: O Meu Nome É Qualquer Um, Transa Qualquer Um e Ponto Final, para pontuar três momentos bem distintos
- Habemus também estreias massa. A primeira é o poliglota e ˜que surpresa boa!˜ Miocardio, do Barro, que tem inclusive uma participação da Juçara (e uma faixa inicial daquelas “pegajosas do bem” – mas pode ir seguindo que ele vai passar por vááários outros tons). A segunda é o delicado, viajante e marítimo Bilhão (Bilhão), um dos meus favoritos do ano. Nas fichas técnicas de ambos, vários nomes já conhecidos (caso alguém goste de ver essas ligações-entre-músicos como eu gosto). Seguindo nos sotaques, O Mesmo Mar Que Nega a Terra Cede à Sua Calma, da Bruna Mendez. Descobri esses três discos pesquisando listas de sites bacanas (como o Miojo Indie, por exemplo) e sim, o sotaque delícia (Pernambuco, Rio e Goiânia, se o Google estiver certo) acrescenta muitos pontos aos trabalhos, mas não é apenas isso. São discões, capas bonitas… todo um universo a explorar e ainda clipes ótimos, como este da faixa 1 do Bilhão:
- Como menções honrosas, álbuns que não me pegaram tanto no conjunto, porém que têm faixas belíssimas: Tatá Aeroplano – Step Psicodélico; Rashid – A Coragem da Luz e Sabotage – Sabotage.

Tá, tá, tá…
/// DISCOS ESTRANGEIROS
Vou me estender menos aqui, porque os demais colaboradores já deram e darão conta de muita coisa que eu citaria (e que tantas vezes ouvimos juntos). Menções deles que reitero: Mothers – When You Walk A Long Distance You Are Tired (outro disco de estreia; que voz, que título, que músicas de chorar em posição fetal) e The Avalanches – Colours (tudo correto, a melhor vibe, um negócio viciante mesmo).
Para encerrar, umas coisinhas que ficaram de fora nas listas deles:
- Anohni – 4 Degrees. Antony and the Johnsons agora é Ahnoni. E o disco dela, que me foi apresentado pelo Romano Corá no comecinho de 2016, seguiu comigo até na piscina de 2017. Intenso, experimentalismos por vezes sombrios, bom para embaralhar as ideias.
- James Blake – The Colour In Anything. O nome desse disco. A voz desse cara. Não é o álbum mais-mais, no conjunto das músicas, porém não dá para não ouvir e listar. Se dê essa uma horinha ao lado do Blake, olha a cara dele pedinu.
- Jesca Hoop e Sam Beam – Love Letter For Fire. Não é preciso gostar de Iron and Wine e da carreira solo da Jesca, porque a coisa aqui é um pouco diferente. Conheci pelo npr | tiny desk concert (e confesso que às vezes até prefiro essa apresentação mais minimalista do que a produção do disco). Terno, doce, meio climão de pegar a estrada, letras lindas e duas belas vozes – que, somadas, ficaram mais fortes. Talvez vocês achem mimimi, mas escutem um pouquinho, de repente :}
- Outros: Explosions in the Sky (seguem ótimos e o lindo show de 2015 ainda reverbera no corazón, mas não é o álbum mais interessante deles); PJ Harvey (maravilhoso; podia ter posto acima, mas agora deu preguiça); Rihanna; Charles Bradley; Esperanza Spalding; Ty Segall…

Mimi?
5. MARCELO BARROS, 40 anos, designer e artista visual
Minhas paixões em 2016
Acabei escolhendo não fazer rankings de tudo aquilo que li, ouvi, senti e presenciei, uma vez que 2016 foi um ano em que busquei vasculhar coisas antigas e conhecer um pouco mais delas ou algo daquelas referências que quase sempre sussurram em nossos ouvidos, mas as deixamos de lado para vivenciarmos o que acontece no momento presente. Por conta disso, pouco “pesquei” do que nasceu no último ano, mas obviamente não deixei de estar atento a ele:
/// Artes visuaisRepouso é o nome da exposição da artista visual Laura Gorski, exibida no Centro Cultural São Paulo, no período de 6 de agosto a 30 de outubro, que me arrebatou e me tirou dos trilhos.
Tratava-se de uma instalação composta de três salas interligadas, as quais apresentavam um conjunto de pedras, galhos e um barco envoltos em áreas pintadas de preto até determinadas alturas, sugerindo um ambiente de submersão nas profundezas de nossas almas. Ela acabou por desnudar aquilo que em nós é supostamente invisível, aquilo que lutamos para dar contorno, mas que muitas vezes transborda.
A instalação não está mais disposta para a visitação, mas ainda é possível vê-la no portfolio da artista.
/// Discos
Música é algo que faz parte da formação do meu DNA, portanto de impossível dissociação. Em 2016 mergulhei nos mares das décadas 60, 70 e 80, porém de vez em quando emergia para observar as novidades. Dentre elas eu não poderia deixar de citar o perturbador Blackstar, do mestre David Bowie e o não menos doloroso A Moon Shaped Pool, do Radiohead, mas como estes já constam nas 10 entre 10 listas de melhores álbuns de 2016, pulo a vez para outros dois que me contaminaram:
- O primeiro é o álbum Post Pop Depression, décimo sétimo álbum de estúdio do incrível Iggy Pop, com a produção certeira de Josh Homme, vocalista e guitarrista do Queens of the Stone Age, e com as imprescindíveis participações de Dean Fertita (Queens of the Stone Age, The Dead Weather, The Raconteurs e The Devotees) e Matt Helders (Arctic Monkeys). Lançado em março de 2016, Post Pop Depression soa sombrio, punk, sujo e reflexivo. Tem pitadas de The Idiot, seu álbum de 1977, no entanto é mais vigoroso, moderno e furioso. Traz, em cada acorde, grunhido e distorção, a força motriz de Josh Homme, para extrair de Iggy o seu melhor, e uma empolgação que não se via há algum tempo.
- Em seguida, lançado em setembro de 2016, A Seat at the Table, terceiro álbum da cantora Solange Knowles, soa tão impecável, moderno e minimalista quanto a finesse que a mistura do R&B com o pop e o soul conseguem gerar. O álbum é recheado de elementos instrumentais simples, econômicos, enxutos e de gosto bem refinado, valendo-se pelos pequenos detalhes e deixando as vozes, letras e interlúdios permearem todas as canções. Essa “economia sonora” não somente vem do refinamento musical da cantora e compositora, mas muito pelo desejo de dialogar com a comunidade negra dos EUA. A Seat at the Table é um grito contra a crueza do racismo e a opressão sofrida pelas mulheres em nossa sociedade. Só isso já vale a audição.
/// Livros
Tenho que admitir que não li tantas obras literária quanto desejava. Passei o ano em meio a livros técnicos, de arte e filosofia. No entanto, procurei conhecer um pouco mais as obras de alguns autores que têm me sensibilizado nos últimos tempos.
Em 2013 descobri o trabalho de Valter Hugo Mãe, lendo o Filho de Mil Homens, que me pegou de súbito e me fez desejar conhecer toda sua obra, quase compulsivamente.
Neste último ano pude conhecer A Desumanização, quarto romance de Valter publicado em 2013 pela falecida Cosac Naify e, até então, a sua obra mais recente (no final de 2016, o escritor lançou o Homens Imprudentemente Poéticos, e pude constar que talvez se trate de sua obra mais triste, dolorosa e de uma beleza delicada.
A história se passa nos fiordes islandeses, sob a ótica de uma menina com aproximadamente 11 anos de idade. Ela nos conta quais transformações sua vida sofreu após a perda de sua irmã gêmea; aborda uma suposta salvação na dor e na tristeza. Lágrimas garantidas.
6. BRUNA SCHUCH, 29 anos, designer gráfica
a_sobre mais que música
Eu queria falar sobre Radiohead sem falar do álbum novo mas falando do álbum novo. Dai alguém fez melhor e puxou o ppt:
b_sobre preciosidade
O projeto colaborativo e comemorativo dos 40 anos de lançamento da Voyager e o Golden Record. Uma obra mais do que para a vida, para a eternidade. Me encanta cada pedacinho.
c_sobre práticas e libertações diárias
Indico o perfil Personal Practice, uma das melhores descobertas de 2016.
Todo dia uma música. Toda música uma dancinha. Toda dancinha um potinho de felicidade.
E para quem curtir e quiser um incentivo para começar, tem a playlist no Spotify.

d_sobre sentimento
7. VICTOR FISCH, 32 anos, cineasta e professor
Destaco esses curtas que passaram no Cinefest Gato Preto, festival do qual sou curador, por 3 motivos: são muito interessantes, são muito diversos e precisam ser assistidos!
/// Lúcida | Fabio Rodrigo e Caroline Neves | 16 min | Itaquaquecetuba
Curta que foi premiado no Gato Preto como melhor filme, melhor fotografia e melhor roteiro.
O filme é simples e forte. Fabio e Caroline fizeram na raça, por ser um tema do qual sentiam que precisavam falar e ainda usaram imagens de seu filho, filmadas no celular. Um filme periférico feito por quem sabe do que quer falar e como falar.
Lúcida ainda passou por Tiradentes, Gramado e mais 20 festivais, recebendo 8 prêmios.
{ entrevista aqui }
/// Quintal | direção André Novais Oliveira | 20 min | Contagem
Foi premiado no Gato Preto como melhor atuação para Maria José Novais de Oliveira, a mãe do diretor André Novais – que já é consagrado por seus filmes. Um dos meus favoritos dele é Fantasmas, que dá para ver no YouTube. Quintal foi até para Cannes. André faz parte de um grupo de cineastas de Contagem-MG, da Filmes de Plástico, que realizam muitos filmaços.
Quintal é brilhante. Um filme de realismo fantástico a partir de um cotidiano banal. Humor, simplicidade e uma excelente atuação dos protagonistas, pais do diretor.
/// 12 Brinquedos e Uma Sentença | direção William Mur | 10 min | São Paulo
{ assista o filme completo }
William Mur faz uma paródia muito engraçada do clássico 12 Homens e Uma Sentença, com teor infantil: a menina não comeu a salada. Foi culpa da Chupeta? William utiliza praticamente só fotografias dos bonecos e dublagem das falas – e consegue um resultado surpreendente.
O Gato Preto foi o primeiro festival a exibir este filme, um importante achado.
/// Tango | direção Francisco Gusso e Pedro Giongo | 12 min | Curitiba
Premiado no Gato Preto como melhor som e melhor cartaz.
O filme é de uma beleza incrível. Uma obra de arte, cujo trabalho pode ser observado nesse making of. Minucioso, cuidadoso, artesanal. Além disso, ainda tem uma ótima história e trabalho de som. Os diretores curitibanos já trabalharam juntos em outro projeto, o Parque Pesadelo.
O Gato Preto foi o primeiro festival a premiar o curta.
/// Boa Noite, Charles | direção Irmãos Carvalho | 19 min | Rio de Janeiro
Os irmãos Carvalho são dois jovens da periferia do Rio de Janeiro que me chamaram muito a atenção este ano. Enviaram três filmes, diversos e instigantes, para o Gato Preto. Decidimos fazer uma sessão especial com os três filmes: Chico, que é um filme futurista distópico, onde jovens negros já nascem controlados pelo governo; Alegoria da Terra, que é um filme de homens da caverna que disputam uma árvore que oferece frutos e Boa Noite, Charles, uma mistura de stop-motion com o processo da realização do filme, onde os próprios diretores aparecem, irritados com os vários anos que levam para terminar a obra, enquanto convivem com a maquete em seu quarto.
{ mais infos aqui }